Católicos, Coloquem os Joelhos no Chão: Oração pelo Conclave

A Igreja Católica enfrenta uma de suas maiores crises. A confusão doutrinária, os escândalos e as divisões internas levam muitos fiéis a questionar: temos um verdadeiro pontífice? Para onde está indo a Igreja? Em tempos de incerteza, é fácil se desesperar, mas é justamente nesses momentos que somos chamados a fortalecer nossa fé e nossa esperança.

A Esperança: Pilar Inabalável da Fé Católica

A esperança é uma das três virtudes teologais, juntamente com a fé e a caridade, e deve ser um pilar inquebrantável para todo católico. São Paulo nos ensina que “a esperança não traz engano” (Rm 5,5), e Cristo prometeu que “as portas do inferno não prevalecerão contra a Igreja” (Mt 16,18). Portanto, por mais sombria que pareça a situação, não podemos nos deixar levar pelo desânimo.

A história nos mostra que, mesmo nos momentos mais turbulentos, Deus sempre levantou santos e guiou a sucessão apostólica para restaurar a ordem e a verdade. Durante o Grande Cisma do Ocidente, a Igreja enfrentou um período de enorme confusão, com múltiplos papas reivindicando a Cátedra de Pedro. Mas, no tempo oportuno, a crise foi resolvida por meio de um conclave. Esse processo, embora conduzido por homens, sempre foi guiado pelo Espírito Santo.

O Conclave: Um Momento de Intervenção Divina

O conclave não é apenas um evento humano, mas um momento de intervenção divina na história da Igreja. A eleição de um papa legítimo é um reflexo da vontade de Deus, e cabe a nós, fiéis, implorar para que o Espírito Santo ilumine os eleitores e conduza a Igreja para um caminho de fidelidade e coragem.

Por isso, católicos, coloquem os joelhos no chão! Devemos rezar sem cessar pelo próximo conclave. Cada Terço, cada súplica, cada ato de sacrifício oferecido é um clamor aos Céus, pedindo que Deus nos envie um verdadeiro pastor, que restaure a tradição e defenda a doutrina da fé. Se muitos estão desanimados, sejamos nós aqueles que sustentam a Igreja com nossas orações.

Não abandonemos a esperança. Cristo está no comando de Sua Igreja, e Ele tem a última palavra. Que o Espírito Santo ilumine todo processo e nos conceda um verdadeiro papa que conduza os fiéis pelo caminho seguro da salvação.

Como a Crise Pode Ser Resolvida?

Diante da crise atual, existem diferentes visões dentro do meio tradicionalista sobre como a Igreja pode superar esse momento difícil, desde os institutos “Ecclesia Dei” e grupos ditos “conservadores”, que reconheciam a legitimidade de Francisco e a de todos os papas pós-Vaticano II, mas resistem a eles em suas decisões (bem como às decisões heterodoxas do próprio Concílio) e ensinam os fiéis a fazer o mesmo, até as correntes que já não reconhecem a legitimidade dos papas que vêm incorrendo em heresia desde o mesmo Concílio, um movimento que vêm crescendo e ganhando importância cada vez maior nos ambientes católicos. Desta última posição, destacam-se duas principais perspectivas: a sedeprivacionista e a sedevacantista totalista.

  1. A Visão Sedeprivacionista

Os sedeprivacionistas afirmam que os papas pós-conciliares possuem um cargo material, mas não exercem plenamente a autoridade pontifícia porque não possuem uma intenção objetiva, real e habitual de realizar o fim da Igreja e o bem divino.

O Que Isso Significa?

A autoridade do Papa não é meramente um título ou um cargo jurídico. Para que um eleito ao papado seja verdadeiramente o Vigário de Cristo, ele deve possuir uma intenção real de governar a Igreja conforme o fim que lhe foi dado por Deus. Isso significa que o Papa deve ter:

  • Uma intenção objetiva – que se refira aos atos externos e à finalidade objetiva da Igreja (finis operis), e não apenas às motivações subjetivas do indivíduo.
  • Uma intenção real – que seja eficaz na prática, manifesta em fatos, ações e decisões concretas.
  • Uma intenção habitual – que seja constante e estável, ainda que possa ter graus variáveis de perfeição.

Se um homem eleito ao papado não tem essa intenção de conduzir a Igreja conforme sua missão divina, então ele coloca um obstáculo à recepção da autoridade formal concedida por Cristo. Em outras palavras, ele pode ser eleito e ocupar materialmente o trono papal, mas não recebe a assistência divina necessária para ser um verdadeiro Papa formalmente.

Essa distinção, segundo os sedeprivacionistas, mencionada nos escritos de Santo Antonino de Florença e aprofundada pelo Bispo Guérard des Lauriers, explica por que os ocupantes pós-Vaticano II não possuem o “ser com Cristo” necessário para exercer a autoridade pontifícia. Suas ações demonstram um afastamento da verdadeira missão da Igreja, substituindo a fé tradicional por um ecumenismo relativista e reformas destrutivas.

Não são “Meio Papas”

É importante destacar que os sedeprivacionistas não consideram os papas materiais como “meio papas” ou papas “pela metade”. Eles simplesmente distinguem entre a ocupação material da Sé Apostólica e o exercício formal da autoridade papal. O fato de um indivíduo ser eleito e ocupar visivelmente o trono papal não significa que ele tenha recebido de Cristo o “ser com” que constitui o pontificado real. Assim, os ocupantes pós-Vaticano II são papas apenas no aspecto material, mas não formalmente.

Com base nessa perspectiva, há três possíveis soluções para a crise:

  • Conversão do Papa Eleito ou de Seu Sucessor – Um papa material que está em erro poderia, pela graça de Deus, reconhecer a verdade e restaurar a fé católica tradicional.
  • Reunião de Cardeais para um Novo Conclave – Se houver cardeais legítimos que reconheçam a anomalia da situação, eles poderiam convocar um conclave autêntico para eleger um verdadeiro sucessor de Pedro. Santo Afonso defende a superioridade do papa sobre o concílio, mas faz ressalvas importantes. Em sua Teologia Moral (1748), ele afirma que essa superioridade não se aplica a um papa duvidoso em tempos de cisma, quando há incerteza sobre sua eleição, pois, nesse caso, todos devem se submeter ao concílio, como definiu o Concílio de Constança, e como também ensinou Santo Antonino. Além disso, ele considera a possibilidade de um papa manifestamente herético perder sua autoridade. Em Verdade da Fé (1767), sustenta que, em tempos de cisma, um concílio pode ser convocado por cardeais e bispos, e os papas rivais devem obedecer à sua decisão, pois, nesse momento, a Sé apostólica é considerada vacante. O mesmo ocorreria caso um papa caísse notória e obstinadamente em heresia. No entanto, Santo Afonso argumenta que, nesse caso, o papa não seria deposto pelo concílio, mas sim diretamente por Jesus Cristo, tornando-se inábil para seu cargo.
  • Intervenção Divina – Deus, por Sua providência, pode restaurar a Igreja através da conversão das autoridades atuais ou do surgimento de uma nova liderança legítima.
  1. A Visão Sedevacantista Totalista

Os totalistas acreditam que a Sé de Pedro está completamente vaga e que qualquer tentativa de reconhecer a atual hierarquia como legítima é inválida. Para eles, a solução poderia ocorrer por meio de:

  • Eleição de um Novo Papa através de um Conclave Imperfeito – Como ensinado pelo Cardeal Tomás de Vio (Caetano), se o Colégio de Cardeais se tornar extinto ou incapaz de eleger um Papa, o direito de eleição retorna ao clero de Roma e, em última instância, à Igreja universal. Esse processo, chamado de Conclave Imperfeito, foi historicamente reconhecido como um meio válido de restaurar a sucessão apostólica.
  • Intervenção Divina Direta: Um Exemplo Histórico – Deus pode suscitar milagrosamente um novo papa, como ocorreu em tempos de crise na história da Igreja. Um exemplo clássico é o Papa São Fabiano (236-250). Durante a eleição para sucessor do Papa Antero, os fiéis e clérigos estavam divididos sem saber quem escolher. Segundo a tradição, uma pomba branca pousou sobre a cabeça de Fabiano, que era um simples leigo presente na eleição. Interpretando esse evento como um sinal do Espírito Santo, os eleitores imediatamente o escolheram como Papa. Esse evento demonstra que, quando os meios humanos falham, Deus pode intervir diretamente para guiar Sua Igreja.

O Caminho Comum: Oração e Confiança em Deus

Apesar das diferenças entre essas visões, tanto sedeprivacionistas quanto sedevacantistas concordam que a crise será resolvida de forma extraordinária, conforme Deus permitir. Mas enquanto isso, o que nós, fiéis, podemos fazer?

✔ Dobrar os joelhos e rezar pelo conclave
✔ Manter a esperança e confiar na promessa de Cristo
✔ Permanecer fiéis à tradição e à doutrina da Igreja

A crise será resolvida no tempo de Deus. Nossa missão é perseverar na fé, na esperança e na caridade. Que o Espírito Santo ilumine o futuro da Igreja e nos conceda um papa fiel à tradição! E que Nossa Senhora, Mãe da Igreja, interceda por nós e pelo futuro da Igreja.

Prece pela Restauração da Fé e da Autoridade Apostólica

 

V. Enviai o vosso Espírito, e tudo será criado.
R. E renovareis a face da terra.

Oremos.
Ó Deus, Pastor eterno, que nunca abandonais o vosso rebanho, mas o governais com amor e sabedoria infalíveis, nós vos suplicamos: dignai-vos, em vossa infinita misericórdia, conceder à vossa Igreja um verdadeiro Pontífice, canonicamente eleito, segundo vossa santa vontade.

Concedei que ele seja um pastor segundo o Coração de Cristo: firme na fé, zeloso pela verdade, defensor intrépido da Tradição e restaurador da vossa Igreja tão abalada. Que ele confirme os irmãos na fé, combata os erros, e conduza os fiéis à santidade e à salvação eterna.

Que sob sua guia, a Esposa de Cristo resplandeça em unidade, pureza e fidelidade, e que em toda parte se proclame sem temor o vosso Santo Nome.

Por Cristo, nosso Senhor.
Amém.

Bibliografia e Trechos Relevantes

  • JOLIVET, Régis. Traité de philosophie, IV Morale. 3ª ed. Paris: [nome da editora], 1949. p. 189.
    “A intenção se dirige ao fim, mas não pode ignorar os meios que emprega: esses meios, também, são portanto desejados, ainda que secundariamente.”
  • PONTIFÍCIO ROMANO, De. De Romano Pontifice, Livro II, Cap. 30.
    “Quando os cardeais criam o Pontífice, eles exercem sua autoridade não sobre o Pontífice, porque ele ainda não existe, mas sobre a matéria, isto é, sobre a pessoa que eles dispõem de certa maneira por meio da eleição, para que ele possa receber a forma do pontificado de Deus.”
  • AQUINO, São Tomás de. Summa Theologiae, I-II, q. 18.
    “A bondade de um ato depende de sua intenção, e um ofício deve ser exercido com a devida finalidade para ser válido.”
  • SANTO AFONSO DE LIGÓRIO. Teologia Moral, 1ª ed., 1748.
    “A superioridade do papa sobre o concílio não se estende a um papa duvidoso, de uma época de cisma, quando exista uma dúvida séria acerca da legitimidade de sua eleição; porque, nesse caso, cada um deve se submeter ao concílio, como definiu o concílio de Constança.”
  • SANTO AFONSO DE LIGÓRIO. Verdade da Fé, 1767.
    “Sempre em tempo de cisma quando se duvida acerca do papa verdadeiro, o concílio pode ser convocado pelos cardeais e pelos bispos; então, cada um dos papas eleitos é obrigado de se ater à decisão do concílio pois, naquele momento, a Sé apostólica é considerada vacante. O mesmo sucederia no caso em que o papa caísse notória e perseverantemente, com obstinação, em qualquer heresia.”
  • SANTO AFONSO DE LIGÓRIO. Refutação aos Erros de Febronius, 1768.
    “Se alguma vez o papa enquanto pessoa privada caísse em heresia, então ele seria imediatamente destituído da autoridade papal, pois estaria fora da Igreja e não poderia mais, por isso, ser cabeça da Igreja. Assim, neste caso, a Igreja, na verdade, deveria não o depor, pois ninguém tem direito superior ao papa, mas declará-lo [automaticamente] deposto do pontificado.”
  • Dom Donald J. Sanborn, Explanation of the Thesis of Bishop Guérard des Lauriers, publicado pelo Most Holy Trinity Seminary. Disponível em: https://mostholytrinityseminary.org. Acesso em: 21/04/2025

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