O Batismo de Desejo e os Princípios Teológicos

Que princípios os Católicos precisam seguir para chegar à verdade?

AO LONGO DOS ANOS tenho encontrado ocasionalmente tradicionalistas, tanto leigos quanto clérigos, seguidores dos ensinamentos do finado Rev. Leonard Feeney e do Saint Benedict Center no que diz respeito ao axioma “Fora da Igreja não há salvação”. Quem adere plenamente à posição feeneyita rejeita o ensinamento católico comum acerca do batismo de desejo e do batismo de sangue.

Os católicos, porém, não são livres para rejeitar esse ensinamento, pois ele vem do magistério ordinário universal da Igreja. Pio IX afirmou que os católicos são obrigados a crer naqueles ensinamentos que os teólogos sustentam que “pertencem à fé”, e a se submeter àqueles capítulos de doutrina comumente sustentados como “verdades e conclusões teológicas”.

Em 1998, fotocopiei material sobre o batismo de desejo e o batismo de sangue tirado das obras de vinte e cinco teólogos pré-Vaticano II (incluindo dois Doutores da Igreja), e compilei-o num dossiê. Todos, é claro, ensinam a mesma doutrina.

Por trás da rejeição feeneyita dessa doutrina está uma rejeição dos princípios que Pio IX ensinou, princípios que formam a base de toda a ciência teológica. Quem rejeita esses critérios rejeita os fundamentos da teologia católica e constrói uma sua própria teologia peculiar, na qual sua própria interpretação dos pronunciamentos papais é exatamente tão arbitrária e idiossincrática quanto a interpretação que um batista livre-pensador dá à Bíblia. É completamente inútil discutir com uma pessoa dessas acerca do batismo de sangue e batismo de desejo, pois ela não aceita os únicos critérios pelos quais uma questão teológica deve ser julgada.

O que segue são notas de uma conferência minha de 15 de julho de 2000 abordando os princípios a serem aplicados no exame das questões do batismo de desejo e batismo de sangue. O dossiê fotocopiado mencionado acima está disponível a partir de nosso escritório por uma taxa simbólica.

Seção I
Que Princípios a Igreja
Exige que Você Siga?

I. Você tem de crer nos ensinamentos do magistério da Igreja, tanto o solene quanto o ordinário universal (Vaticano I).

A. Princípio Geral:

• “Deve-se, pois, crer com fé divina e católica tudo aquilo que está contido na palavra divina escrita e na tradição, bem como que a Igreja, quer em declaração solene, quer PELO MAGISTÉRIO ORDINÁRIO E UNIVERSAL, nos propõe a crer como revelado por Deus.” Concílio Vaticano I, Constituição Dogmática sobre a Fé (1870), DZ 1792.

B. O Código de Direito Canônico impõe a mesma obrigação. (Cânon 1323.1)

C. Portanto, você tem de crer com fé divina e católica naquelas coisas:

1. Contidas na Escritura ou Tradição, E

2. Propostas à crença como divinamente reveladas pela autoridade da Igreja, seja por meio de:

aPronunciamentos solenes (por concílios ecumênicos, ou papas ex cathedra) OU

bMagistério ordinário universal (ensinamento dos bispos unidos ao Papa, seja em concílio ou espalhados pelo mundo.)

D. Isso não é “opcional” ou “questão de opinião”.

• Pois define o objeto da fé: o que você é obrigado a crer.

• Ademais, é de fide definita: um pronunciamento infalível, imutável e solene.

II. Você tem de crer naqueles ensinamentos do magistério ordinário universal ensinados pelos teólogos como pertencentes à fé. (Pio IX).

• “Porque ainda que se tratasse daquela submissão que se deve prestar mediante um ato de fé divina, não haveria, sem embargo, que limitá-la às matérias que foram definidas por decretos expressos dos Concílios ecumênicos ou dos Romanos Pontífices e desta Sé, mas haveria também que estender-se às matérias que se ensinam como divinamente reveladas pelo magistério ordinário da Igreja inteira espalhada pelo mundo e, portanto, com universal e comum consentimento são consideradas pelos teólogos católicos como pertencentes à fé.” Tuas Libenter (1863), DZ 1683.

III. Você também tem de se submeter às decisões doutrinais da Santa Sé e a outros capítulos de doutrina comumente considerados verdades e conclusões teológicas. (Pio IX).

A. Princípio Geral.

• “Mas, como se trata daquela sujeição à qual estão obrigados em consciência todos os católicos que se dedicam às ciências especulativas, para que possam trazer com seus escritos novos proveitos para a Igreja, por essa razão, os homens desse mesmo congresso devem reconhecer que não basta aos sábios católicos aceitar e reverenciar os supracitados dogmas da Igreja, mas é também necessário a eles submeter-se às decisões que, pertencentes à doutrina, são emanadas das Congregações Pontifícias, bem como àqueles capítulos de doutrina que, pelo comum e constante sentir dos católicos, são considerados como verdades e conclusões teológicas, tão certas que as opiniões contrárias a esses capítulos de doutrina, ainda que não possam ser chamadas de heréticas, merecem, sem embargo, alguma censura teológica.” Tuas Libenter (1863), DZ 1684.

B. Você, portanto, tem de aderir ao seguinte:

1. Decisões doutrinais das Congregações Vaticanas (ex: o Santo Ofício).

2. Capítulos de doutrina considerados como:

a. verdades e conclusões teológicas.

b. certos, a ponto de a oposição a eles merecer alguma censura teológica inferior a “heresia”.

IV. Você tem de rejeitar as seguintes posições condenadas acerca dessa questão.

A. Os teólogos “obscureceram” as verdades mais importantes de nossa fé. (Condenada por Pio VI.)

• “A proposição que afirma ‘que nestes últimos tempos disseminou-se um obscurecimento generalizado das verdades mais importantes concernentes à religião, que são a base da fé e dos ensinamentos morais de Jesus Cristo’, HERÉTICA.” Auctorem Fidei (1794) DZ 1501.

B. Os católicos são obrigados a crer somente naquelas coisas infalivelmente propostas como dogmas. (Condenada por Pio IX.)

• “E assim todas e cada uma das malignas opiniões e doutrinas mencionadas individualmente nesta carta, por Nossa autoridade apostólica Nós rejeitamos, proscrevemos e condenamos: e Nós desejamos e ordenamos que sejam consideradas como absolutamente rejeitadas, proscritas e condenadas por todos os filhos da Igreja Católica…”

“22. A obrigação a que estão sujeitos os mestres e escritores católicos refere-se tão somente àquelas coisas que o juízo infalível da Igreja propõe como dogmas de fé para todos crerem.” PROPOSIÇÃO CONDENADA. Encíclica Quanta Cura e Sílabo de Erros (1864), DZ 1699, 1722.

C. As encíclicas não exigem assentimento, pois os papas não estão exercendo seu poder supremo. (Condenada por Pio XII.)

• “Nem se deve crer que os ensinamentos das Encíclicas não exijam, por si, assentimento, em razão de os sumos pontífices não exercerem nelas o supremo poder de seu magistério. Pois tais ensinamentos provêm do magistério ordinário, para o qual valem também aquelas palavras: ‘Quem vos ouve a mim ouve’ (Lc 10,16); e, na maioria das vezes, o que é proposto e inculcado nas Encíclicas, já por outras razões pertence ao patrimônio da doutrina católica.” Humani Generis (1950), DZ 2313.

Seção II
O Porquê de a Igreja Exigir de Você
a Crença ou Adesão às Doutrinas
Comumente Ensinadas pelos Teólogos dela

Sumário traduzido pelo Pe. Cekada de: Pe. Reginald-Maria SCHULTES OP, De Ecclesia Catholica: Praelectiones Apologeticae [Preleções Apologéticas sobre a Igreja Católica], 2.ª ed., Paris: Lethielleux, 1931, pp. 667 ss. Este livro foi usado por estudantes para os diplomas de doutoramento em teologia nas Universidades Romanas no começo do século XX. O Pe. Schultes detinha a mais alta distinção teológica na Ordem Dominicana (OPS ThMagister), e foi Professor na Pontifícia Universidade do Angelicum em Roma. Seções marcadas com asterisco (*) = comentários adicionais pelo Pe. Cekada.

I. Conceitos Introdutórios.

A. Definição de Teólogo = “homens doutos que, depois da época dos Padres da Igreja, ensinaram cientificamente a sacra doutrina na Igreja.”

1. na Igreja = em união com a Igreja, seja com: (a) uma missão específica recebida da Igreja ou com (b) o consentimento da Igreja, expresso ou tácito.

2. doutrina = seja o dogma ou a moral.

B. Tipos Gerais de Teologia.

1. Positiva = investiga e expõe os conteúdos da Escritura e dos Padres.

2. Escolástica = busca o entendimento da fé por meio do emprego da Escritura, dos Padres, da razão (silogismos) e dos princípios filosóficos (ao explicar a Revelação, tirando conclusões e formulando definições).

C. *A Educação e Carreira de um Teólogo.*

• Seminário Menor. 6 anos. Latim, artes liberais.

• Filosofia, 2-3 anos. Lógica, Metafísica, Cosmologia, Psicologia, Criteriologia, etc.

• Teologia, cursada numa Universidade Pontifícia: Cursos de Dogmática, Moral e Pastoral estudados pelo clero ordinário, 4-5 anos. (No primeiro ano, os critérios para a resolução de questões teológicas.) Licenciatura em Sacra Teologia. Ordenação com cerca de 25 anos de idade. Estudos para doutoramento, 2-4 anos. Pesquisa, dissertação, defesa pública da dissertação perante examinadores de uma Universidade Pontifícia. Doutorado em Sacra Teologia.

• Início de Carreira: Professor de cursos de bacharelado em universidades. Assistente de pesquisa de professores veteranos. Redação e pesquisa de seus próprios artigos. Publicação de artigos em periódicos. (Todos são examinados minuciosamente pelos professores e devem ser revisados pelos superiores eclesiásticos e receber um Imprimatur.) Revisão pelos professores veteranos da faculdade.

• Meio da Carreira (Se bem-sucedido): Professor assistente numa Universidade Pontifícia. Selecionado como co-autor de uma obra importante por um teólogo reconhecido. Pesquisa continuada e publicação de artigos em periódicos. (Todos com revisão por seus pares e aprovação eclesiástica.)

• Carreira Avançada (Se bem-sucedido): Livre-docência numa Universidade Pontifícia. Autoria de uma obra considerada uma contribuição significativa num campo particular. Pesquisa continuada e publicação de artigos em periódicos. (Todos com revisão por seus pares e aprovação eclesiástica.)

• O Topo da Pirâmide (Apenas os melhores dos melhores): Chefe de departamento numa Universidade Pontifícia. Autoria de um manual, em vários volumes, de teologia dogmática ou moral que seja considerado uma contribuição notável em seu campo e seja empregado em seminários e universidades pelo mundo todo. Designação pelo Papa como Consultor de um dos dicastérios da Cúria Romana. Convite a redigir o esboço de uma Encíclica ou legislação papal. O chapéu de Cardeal.

• Conclusão a tirar: Os teólogos que eram reconhecidos como os melhores em seus campos antes do Vaticano II possuíam um conhecimento e excelência em doutrina Católica que era muitíssimo superior ao de um leigo ou de um padre de paróquia comum.

II. Adversários da Autoridade dos Teólogos.

A. Humanistas. (Rejeitaram os princípios sobrenaturais. Puseram o homem no centro do universo.)

B. Protestantes. (Rejeitaram as doutrinas defendidas pelos teólogos.)

1. Lutero. A teologia escolástica é “ignorância da verdade e inútil falsidade.”

2. Melancthon. A teologia escolástica é “o Evangelho obscurecido, a fé extinta.”

C. Jansenistas. (Alegaram que os teólogos “obscureceram a doutrina revelada.”)

D. Modernistas, racionalistas liberais. (Rejeitam a natureza imutável da verdade.)

III. Doutrina da Igreja sobre a Questão.

A. Pronunciamentos Papais.

1. Pio VICondena as seguintes proposições do Sínodo de Pistóia (1794):

a. Que o método escolástico “abriu caminho para a invenção de novos sistemas discordantes entre si quanto a verdades de um valor mais alto, e que por fim levaram ao probabilismo e o laxismo.” DZ 1576.

b. “A asserção que ataca com acusações caluniosas as opiniões discutidas nas escolas católicas, acerca das quais a Sé Apostólica pensa que nada ainda tem de ser definido ou pronunciado.” DZ 1578.

c. “A proposição que afirma ‘que nestes últimos tempos disseminou-se um obscurecimento generalizado das verdades mais importantes concernentes à religião, que são a base da fé e dos ensinamentos morais de Jesus Cristo’, herética.” DZ 1501.

2. Pio IXReprimenda àqueles que rejeitam os ensinamentos da teologia escolástica:

• “Tampouco ignoramos que na Alemanha também predominou uma opinião falsa contra a antiga Escola, e contra o ensinamento daqueles sumos Doutores, os quais a Igreja universal venera por sua admirável sabedoria e santidade de vida. Por essa falsa opinião, contudo, se põe em perigo a própria autoridade da Igreja, especialmente porque a Igreja, não só durante tantos séculos seguidos permitiu que a ciência teológica fosse cultivada segundo o método e os princípios desses mesmos Doutores, mas ela também exaltou muito freqüentemente a doutrina teológica deles com os mais altos elogios, e recomendou-a incisivamente como um fortíssimo baluarte da fé e um arsenal formidável contra seus inimigos.” Tuas Libenter, 1863, DZ 1680.

3. Leão XIIIPrescreve o uso de Santo Tomás e dos métodos dele.

B. Prática da Igreja.

1. Condenando doutrinas contrárias ao ensinamento dos teólogos.

2. Aplicando a doutrina escolástica e os métodos escolásticos em seus pronunciamentos.

3. Declarando teólogos Doutores da Igreja (Santo Tomás, São Boaventura, etc.)

C. O Código de Direito Canônico.

• “Os instrutores, ao conduzirem o estudo da filosofia racional e da teologia e no treinamento dos seminaristas nessas matérias, deverão seguir o método, a doutrina e os princípios do Doutor Angélico, e aderir a eles firmemente.” (Cânon 1366.2)

IV. Tese: O ensinamento unânime dos teólogos em questões de fé e moral estabelece certeza para a prova de um dogma.

A. Primeira Prova: A conexão dos teólogos com a Igreja.

1. Como homens que estudaram a ciência teológica, os teólogos têm uma autoridade apenas científica e histórica. Mas como servosórgãos e testemunhas da Igreja, eles possuem uma autoridade que é tanto dogmática como certa.

2. A doutrina da Igreja sobre questões de fé e moral possui uma autoridade que é dogmática e certa. (a) O ensinamento unânime dos teólogos testemunha e expressa a doutrina da Igreja, pois a Igreja aceita o ensinamento comum dos teólogos como verdadeiro e como sendo o próprio ensinamento dela quando ela o aprova, seja tácita ou expressamente. (b) Os teólogos como ministros e órgãos da Igreja instruem os fiéis nas doutrinas da fé. Então, de fato aquelas coisas pregadas, ensinadas, sustentadas e cridas são as mesmas coisas que os teólogos propõem e ensinam.

3. E assim, em razão da conexão dos teólogos com a Igreja, o acordo deles quanto a uma doutrina tem uma autoridade que é tanto dogmática como certa, porque do contrário a autoridade da própria Igreja seria ameaçada, pois ela admitiu, incentivou e aprovou a doutrina dos teólogos.

4. Essa prova é confirmada porque a autoridade dogmática dos teólogos é negada por todos aqueles e somente aqueles que: (a) Negam ou recusam admitir a autoridade dogmática da Igreja; ou (b) Pelo menos recusam considerar a conexão dos teólogos com a Igreja. Não surpreende que todos os inimigos da Igreja ou da verdade católica sejam igualmente inimigos da teologia católica.

B. Segunda Prova: Falsos princípios por trás dos argumentos contrários.

• Os adversários negam a autoridade dos teólogos: (1) Quebrando o elo entre a Igreja e os teólogos, ou ao menos negando ou diminuindo a autoridade dogmática da própria Igreja. (2) Opondo-se diretamente à doutrina católica que os teólogos propõem e defendem. (3) Tentando introduzir filosofia errônea ou outros conceitos falsos incompatíveis com o ensinamento da fé.

C. Terceira Prova: os Efeitos

• O ensinamento dos teólogos, especialmente os escolásticos, é o que melhor explica e defende a doutrina da fé, nutre e gera a fé, e auxilia e aperfeiçoa a vida cristã. Pelo contrário, sempre e na medida em que a doutrina dos teólogos é abandonada, especialmente aquela dos teólogos escolásticos, erros teológicos, realmente heresias, emergem, e a vida cristã decai. Toda a história eclesiástica presta testemunho disso, desde a Idade Média até nossos dias. Por um lado, a magnífica explicação e elucidação da doutrina cristã pelos teólogos escolásticos, aprovados e aclamados pela Igreja (cujo encargo é julgar a verdade da doutrina teológica), e sua fé e vida cristã exemplar. Por outro lado, as heresias, erros teológicos, a vida cristã declinante: tudo isso é provado pela história dos protestantes, baianistas, jansenistas, modernistas, e outros adversários de escolas teológicas recentes.

V. Objeções e Respostas. (A-C: Pe. Schultes; D–E: Pe. Cekada)

A. Então os teólogos ‘inventam’ doutrinas. “Não cabe aos teólogos determinar se alguma doutrina é ‘de fide’ ou ‘certa’ ou ‘católica’.”

• Resposta: Os teólogos não ‘determinam’ se uma doutrina é ‘de fide’ ou ‘certa’ ou ‘católica’. Eles apenas demonstram, ou manifestam ou testemunham que uma doutrina específica é ‘de fide’ ou ‘certa’ ou ‘católica’.

B. Mas os teólogos erraram no passado… “Ao longo da história, os teólogos sustentaram vários erros, e além disso disputaram entre si acerca de graves questões.”

• Resposta: Deixo passar a acusação de que os teólogos escolásticos erraram em certas questões de fé. Eles jamais, todavia, defenderam unanimemente um erro como sendo doutrina da fé.

C. Eles não podem explicar confiavelmente o significado da doutrina definida. “Os teólogos são testemunhas confiáveis de uma doutrina tal como definida pela Igreja. Mas eles não são testemunhas confiáveis quanto ao significado de uma doutrina que eles propõem. Nisso eles têm de ser considerados apenas doutores privados, interpretando o dogma e aplicando-o de acordo com sua própria filosofia.”

• Resposta: Os teólogos são testemunhas não somente acerca de se uma doutrina é definida, mas também de seu significado. (a) Ao explicarem e determinarem o significado dos dogmas, os teólogos são considerados doutores privados com relação aos métodos que eles usam (argumentos, etc.), mas não quando eles propõem uma doutrina como doutrina da fé ou da Igreja, ainda que eles expressem seu significado a outras pessoas usando outros conceitos e fórmulas. (b) A opinião contrária obviamente peca contra o ensinamento da Igreja acerca da autoridade dos teólogos. (c) Ademais, é absurdo alegar que os Padres da Igreja e os seus teólogos erraram ao apresentar e explicar o significado da doutrina da fé. Essa opinião envolve o erro jansenista de que a fé foi “obscurecida” na Igreja.

D. *Os teólogos e o Vaticano II.* “Os ensinamentos dos teólogos foram responsáveis pelos erros doutrinais do Vaticano II. Já que esses teólogos erraram e nós rejeitamos os ensinamentos deles, estamos também, portanto, livres para rejeitar o ensinamento dos teólogos anteriores se um ensinamento ‘não faz sentido’ para nós.”

• Resposta: O grupo de teólogos modernistas europeus principalmente responsável pelos erros do Vaticano II era de inimigos da teologia escolástica tradicional, que foram censurados ou silenciados pela autoridade da Igreja: Murray, Schillebeeckx, Congar, de Lubac, Teilhard etc. Quando as restrições foram removidas sob João XXIII, eles puderam difundir seus erros livremente. Na verdade, o fato de eles terem sido silenciados anteriormente demonstra a vigilância da Igreja contra o erro nos escritos dos teólogos dela.

E. *Interpretações Privadas [Livre-Exame] dos Pronunciamentos Magisteriais.* “Eu acho que os pronunciamentos infalíveis da Igreja são todos bem claros. Eu não preciso de ‘interpretações’ ou explicações de teólogos. Eu simplesmente entendo tudo literalmente.”

• Resposta: Interpretações e explicações de texto “faça-você-mesmo” são para os protestantes, não os católicos. A teologia é uma ciência que opera sob o olhar vigilante da Igreja, e não uma “boca-livre” para todo católico que tenha uma tradução vernácula do Denzinger. Como qualquer outra ciência, a teologia opera segundo critérios reconhecidos e objetivos que os especialistas empregam para chegar à verdade acerca de diversas proposições. Então, se você não é treinado na ciência, você não tem nada que ficar bolando suas próprias interpretações dos pronunciamentos do magistério. Na melhor das hipóteses, você acabará parecendo um ignorante; na pior, você acabará virando um herege.

Explicação Adicional por Outro Teólogo

Sumário traduzido pelo Pe. Cekada a partir do material contido em:
I. Salaverri SJ. Tractatus de Ecclesia, 3.ª ed., Madrid: BAC, 1955, 846 pp.

Tese 21. O consenso dos teólogos em questões de fé e moral é um critério certo da divina Tradição.

A. Valor Dogmático desta Tese. Ela é:

1. Doutrina Católica. (Pelo ensinamento de Pio IX supracitado.)

2. Teologicamente Certa. (Pela prática de Trento e do Vaticano I.)

B. Prova da Tese.

1. Premissa Maior. O consentimento dos teólogos em questões de fé e moral é tão intimamente conexo com a Igreja docente que um erro no consenso dos teólogos necessariamente levaria a Igreja inteira para o erro.

2. Premissa Menor. Ora, a Igreja inteira não pode errar em fé e moral. (A Igreja é infalível.)

3. Conclusão. O consenso dos teólogos em questões de fé e moral é critério certo de Tradição divina.

C. Provas da Premissa Maior.

1. Citação de Obras Teológicas. Papas, bispos, etc., do século VIII em diante ensinaram material que eles tiraram do ensinamento dos teólogos.

2. Supervisão. Desde os séculos XII-XVI, a Igreja fundou, dirigiu e supervisionou todas as escolas teológicas.

3. Legislação. Desde o tempo de Trento, obras teológicas foram usadas em seminários que eram supervisionados por Bispos e Papas.

4. Consulta. A Igreja usou teólogos como consultores dela em questões doutrinais.

5. Aprovação Implícita. A Igreja aprova implicitamente os conteúdos das obras dos teólogos ao não censurá-las, coisa que ela é obrigada a fazer em caso de erros teológicos.

6. Recomendação. Os escritos das diversas escolas teológicas são elogiados pelos papas e apresentados como exemplos a imitar.

Seção III
Teólogos Pré-Vaticano II Que Ensinam
Batismo de Desejo, Batismo de Sangue.

De um dossiê com 122 páginas de material fotocopiado.

A tabela a seguir contém uma lista de teólogos pré-Vaticano II que ensinam batismo de desejo (=desideriiflaminisin voto, etc.) e batismo de sangue (=sanguinis, martyrii, etc.), juntamente com uma referência para a página do dossiê fotocopiado que preparei. Dois deles, Santo Afonso de Ligório e São Roberto Bellarmino, são Doutores da Igreja. Muitos mais desses teólogos podem facilmente ser encontrados. Essas foram apenas as obras de minha biblioteca particular.

Também incluída está a categoria teológica (se houver) que cada teólogo designou ao ensinamento sobre batismo de sangue e batismo de desejo. Essa “categoria” em teologia (também chamada de “nota” teológica, “qualificação” teológica, etc.) indica o quão próximo está um ensinamento das verdades que Deus revelou e obriga-nos a crer — seja “teologicamente certo”, “doutrina católica”, de fide (de fé), etc. (Alguns teólogos simplesmente ensinam as doutrinas, e não atribuem categorias.)

Tabela das Categorias Teológicas

Teólogo
ou
Canonista
Página no DossiêCategoria Teológica
do
Batismo de Desejo
Categoria Teológica
do
Batismo de Sangue
1. Abarzuza2de fide, teol. certateologicamente certa
2. Aertnys7de fideensina
3. Billot10-20ensinaensina
4. Cappello23ensinacerta
5. Coronata28de fideensina
6. Davis32ensinaensina
7. Herrmann35de fidepertencente à fé
8. Hervé38teologicamente certateologicamente certa no mín.
9. Hurter44ensinaensina
10. Iorio47ensinaensina
11. Lennerz49-59ensinaensina
12. Ligório61-62de fideensina
13. McAuliffe67doutrina católicaensinamento certo comum
14. Merkelbach71certacerta
15. Noldin74ensinaensina
16. Ott77fidei proximafidei proxima
17. Pohle81doutrina católicadoutrina certa
18. Prümmer89de fidedoutrina constante
19. Regatillo91, 96de fideensina
20. Sabetti98ensinaensina
21. Sola102fidei proximateologicamente certa
22. Tanquerey107,111certacerta
23. Zalba114ensinaensina
24. Zubizarreta118ensinaensina
25. Bellarmino120ensinaensina
Sumário das
Categorias Teológicas
Batismo de DesejoBatismo de Sangue
Ensinamento comum das doutrinas25 (todos)25 (todos)
Teologicamente certa, certa38
Doutrina católica, constante21
fidei proxima, pertencente à fé22
de fide (de fé)70

Seção IV
Conclusões, a partir do que foi visto,
Acerca de Batismo de Desejo e Batismo de Sangue

1. Todos os vinte e cinco teólogos ensinam batismo de sangue e batismo de desejo, e nenhum rejeita o ensinamento, então ambas as doutrinas são ensinadas com consentimento comum.

2. Alguns teólogos categorizam as doutrinas como teologicamente certas.

3. Alguns teólogos categorizam as doutrinas como doutrina católica.

4. Alguns teólogos categorizam as doutrinas como de fide (de fé).

Seção V
Aplicação do Princípio do Papa Pio IX
ao Ensinamento desses Teólogos

1. Princípio Geral (de Pio IX, seção I: II-III acima):

Todos os católicos são obrigados a aderir a um ensinamento se os teólogos católicos sustentam-no por consentimento comum, ou sustentam-no como de fide, ou doutrina católica, ou teologicamente certo.

2. Fato Particular (das seções III, IV acima, como documentado no dossiê):

Ora, os teólogos católicos sustentam o ensinamento sobre batismo de desejo e batismo de sangue por consentimento comum, ou o sustentam como de fide, ou doutrina católica, ou teologicamente certo.

3. Conclusão (1 + 2):

Logo, todos os católicos são obrigados a aderir ao ensinamento sobre batismo de desejo e batismo de sangue.

Seção VI
Grau de Erro e Gravidade do Pecado Se Você Rejeita
o Batismo de Desejo e o Batismo de Sangue

Cada “categoria” teológica tem uma censura teológica correspondente anexa a ela, que expressa o grau de erro em que alguém caiu ao negar esse ensinamento específico.

Abaixo estão as diversas categorias que os teólogos atribuíram ao batismo de desejo e batismo de sangue, juntamente com as respectivas censuras e uma nota acerca da gravidade do pecado cometido.

Os teólogos classificam os ensinamentos sobre os batismos de desejo e sangue com uma das categorias seguintes:SEU GRAU DE ERRO
(a censura) se você nega o ensinamento:
GRAVIDADE DO PECADO
contra a Fé se você nega o ensinamento:
Teologicamente certoErro teológicoPecado mortal
Indiretamente contra a fé.
Doutrina católicaErro em
doutrina católica
Mortal
Indiretamente contra a fé.
De fideHeresiaMortal
Diretamente contra a fé.

Seção VII
Conclusão Geral

Todos os católicos estão obrigados a aderir ao ensinamento comum sobre batismo de sangue e batismo de desejo.

De acordo com as normas delineadas acima, a posição feeneyita representa ou erro teológico, ou erro em doutrina católica ou heresia.

Os católicos que aderem à posição feeneyita sobre batismo de desejo e batismo de sangue cometem um pecado mortal contra a fé.

_____________

PARA CITAR:

Rev. Pe. Anthony CEKADA, O Batismo de Desejo e os Princípios Teológicos, 2000, trad. br. por F. Coelho, São Paulo, maio de 2009, blogue Acies Ordinata, http://wp.me/pw2MJ-B

de: “Baptism of Desire and Theological Principles”, 11 pp.,
traditionalmass.org/images/articles/BaptDes-Proofed.pdf

https://magisteriodaigreja.com/o-batismo-de-desejo-e-os-principios-teologicos/